Legado catastrófico da Minustah no Haiti é questionado por movimentos populares e pede-se nova cooperação com o Brasil.

Os movimentos populares haitianos organizados estão aguardando uma avaliação imparcial do Brasil e da comunidade internacional sobre o legado da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), que teve o Brasil como país comandante durante seu funcionamento entre 2005 e 2017. Essa missão é vista como catastrófica para o povo haitiano, contribuindo para enfraquecer o Estado, aumentar a dependência em relação aos Estados Unidos e gerar uma aliança estratégica com a extrema direita, segundo o economista e professor haitiano Camille Chambers.

Uma das consequências políticas negativas da Minustah foi o abandono de crianças haitianas, filhas de soldados brasileiros, além da epidemia de cólera causada pela doença trazida por soldados nepaleses, que vitimou cerca de 40 mil pessoas no país. Alguns militares chegaram a afirmar que o trabalho realizado pelas tropas brasileiras no Haiti foi um treinamento para reforçar a repressão e o controle das favelas de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Camille Chambers destacou a importância de o atual governo brasileiro compreender essa questão e permitir o desenvolvimento de uma nova cooperação que leve em consideração os interesses e a vontade do povo haitiano. Chambers é integrante da Papda, uma coalizão de organizações populares que existe desde 1995 e luta contra políticas neoliberais.

Além disso, o economista ressaltou as dificuldades de integração do Haiti à América Latina e ao Caribe em termos políticos, econômicos e comerciais. O país enfrenta um isolamento desde a Revolução Haitiana em 1804, mas Chambers considera a conexão com o continente essencial para o desenvolvimento do país.

Ele defende uma integração mais completa do Haiti à Caricom, inclusive com o crioulo como instrumento de trabalho da organização, e propõe a abertura de um campus da Universidade das Índias Ocidentais no país, a fim de reduzir o déficit de ensino superior e evitar a migração de jovens haitianos em busca de educação em outros países.

Chambers destacou ainda a importância de uma diplomacia cidadã agressiva para ligar o Haiti à luta dos povos afrodescendentes na América do Norte e em todo o continente. Ele acredita que o investimento nas lutas atuais pelos direitos fundamentais dos povos afrodescendentes pode ser um símbolo da luta antiescravagista haitiana.

Portanto, os movimentos populares haitianos esperam por uma avaliação crítica do legado da Minustah e por um engajamento mais efetivo do Brasil e da comunidade internacional em prol do desenvolvimento e da integração do Haiti à América Latina e ao Caribe.

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