A pesquisa, publicada na revista Clinical Breast Cancer, foi a primeira a avaliar a ancestralidade de pacientes com câncer de mama nos diferentes subtipos moleculares, utilizando marcadores genéticos especialmente selecionados para a população brasileira. O objetivo era identificar se a frequência desses subtipos de tumores se associava com a ancestralidade genética das pacientes.
Segundo os pesquisadores, os resultados apontam para a necessidade de realizar exames anuais em populações de ascendência africana, predominante no Norte e Nordeste do Brasil. Além dos fatores socioeconômicos que podem influenciar o prognóstico da doença nessa população, foi observada uma maior proporção de ancestralidade africana em mulheres com o subtipo molecular triplo-negativo, que é conhecido por ser mais agressivo e ter menos opções de tratamento.
O estudo analisou mais de mil pacientes com câncer de mama em diferentes regiões do país. Foi observado que a ancestralidade avaliada geneticamente foi um fator associado à classificação molecular do câncer. Isso indica que a cor da pele não é determinante para o tipo de tumor, mas sim a ancestralidade.
A pesquisa também mostrou a importância da prevenção e do tratamento adequado para cada subtipo de câncer de mama. Em geral, a quimioterapia aumenta a sobrevida em 12%, independente do subtipo molecular. Já os tumores luminais têm a opção de tratamento hormonal, que eleva a sobrevida em cerca de 30%. Por outro lado, os tumores triplo-negativos, que são mais frequentes em mulheres com ancestralidade africana, não respondem ao tratamento hormonal e possuem um prognóstico pior.
A análise das amostras de tumores e a autodeclaração de cor ou raça das pacientes indicaram uma considerável mistura na composição genética da população brasileira. A maioria apresentava ancestralidade europeia, seguida de africana, ameríndia e asiática. Também foi observada uma associação significativa entre o subtipo do tumor e a região geográfica onde vivia a paciente.
Com base nesses resultados, os pesquisadores recomendam uma maior frequência de exames de rotina, como a mamografia, nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) indica a realização de exames a cada dois anos, porém, para mulheres com tumores triplo-negativos, que crescem rapidamente, exames anuais seriam mais adequados.
Essa pesquisa contribui para o avanço no conhecimento sobre o câncer de mama e ressalta a importância de considerar a ancestralidade genética ao determinar o risco e o tratamento adequado para cada paciente.